Nossa maior busca, como aquaristas, está em tentar reproduzir o meio ambiente natural para os futuros habitantes de nossos aquários.
Esse texto tem como principal finalidade ajudar a desmistificar os segredos e macetes, na montagem de um aquário natural, ou melhor dizendo, um tanque com peixes, plantas e invertebrados em equilíbrio e harmonia.
Para fazer isso dependemos de parâmetros que devem ser respeitados.
Veja as fotos abaixo com dois layouts diferentes do mesmo aquário. Já possuímos esse aquário desde abril de 1998 e já está em sua terceira versão.
Localização
Deve-se ter cuidado para ficar longe de outras fontes luminosas, para não interferir no crescimento das plantas e muito menos ajudar na proliferação de algas. A luz do sol não é a única causadora das algas, pois na verdade elas sempre estão lá, mas com a falta de manutenção (sifonagem - mensal, limpeza do vidro - quinzenal, troca de elementos filtrantes), água de má qualidade, alimentação exagerada (quantidade para ser consumida em um minuto) e peixes em demasia, há uma grande concentração de nutrientes, principalmente fosfatos e nitratos. E estes sim beneficiam o crescimento exagerado de algas.
O tamanho do aquário
Deve estar de acordo com a disponibilidade de espaço e/ou financeira. Não devemos esquecer que aquários maiores tendem a ser mais estáveis e fáceis de manter. Dê preferência também a aquários retangulares e mais compridos do que altos (altura máxima de 60cm) e quanto a altura e largura podem ser proporcionais. Como 50x25x35cm, 100x50x50cm ou 150x60x60cm.
O aquário deve estar bem apoiado, sobre uma superfície plana e firme, com isopor embaixo. Este suporte pode ser um móvel próprio com armário e tampa para embutir a iluminação e esconder filtros. Obs.: se o aquário tiver algum lado ocultado por uma parede ou móvel, procure colocar um papel adesivo preto, pois inibe crescimento de algas, facilita a manutenção e deixa o aquário com um visual mais limpo.
Substrato
O melhor é utilizar um areião lavado de rio, com diâmetro médio de 2 a 6mm e uma camada de 6 a 10cm. Isto serve para as plantas terem uma boa fixação de suas raízes. Abaixo dele misturamos um fertilizante (Floradepot) e mais no meio laterita, rica em ferro, para um melhor desenvolvimento inicial das plantas.
Iluminação
A instalação das lâmpadas pode ser feita em uma tampa de madeira ou uma calha plástica ou de alumínio embutida ou suspensa, os reatores devem ficar distante da água, preferencialmente por fora e para trás. A potência necessária como regra geral é de 0,5 a 1W/l, ligadas por um temporizador digital (ou timer analógico) de 8 a 12 horas por dia. As lâmpadas utilizadas devem ter uma temperatura de cor na faixa de 5500 a 20000K, isto é, lâmpadas brancas até azuis. As mais usuais são as fluorescentes: Aqua-Glo (tom rosado 18000K), Power-Glo (tom azulado 18000K) e Life-Glo (luz branca de alto brilho 6700K), da Hagen; Aqua Relle (luz branca de alto brilho 10000K) e Aqua Sky (luz branca 6500K) da Philips. Também existem as compactas tipo PL. E ainda as HQI, lâmpadas de vapor metálico de 5200K a 14000K. Se houver problemas para manter a temperatura na faixa dos 26°C, podemos utilizar ventiladores ou até mesmo um refrigerador.
Na verdade o que temos que fazer é uma mistura, homogeinização, de faixas de espectro luminoso, utilizando lâmpadas variadas para otimizar o crescimento das plantas. A luz rosada (Aqua-Glo) faz a planta crescer na longitudinal, para cima; a luz branca (Life-glo ou Aqua Relle) é mais uniforme e dá um brilho maior; a luz azulada (Power-Glo) faz um crescimento na transversal, na largura da planta.
O ideal é deixar o aquário sem tampas de vidro para melhor penetração da luz e crescimento de algumas plantas flutuantes - muito benéficas na absorção de fosfatos e nitratos.
Filtragem biológica, mecânica e química
Chegamos a parte principal, o coração, pulmão e rins do aquário. Deve-se ter cuidado no dimensionamento da vazão dos equipamentos, para não haver circulação e filtragem demasiada ou escassa, pode-se utilizar uma regra de 3 a 6 vezes o volume do aquário por hora. Ou seja para um aquário de 200 litros, um filtro com vazão de 600 a 1200 l/h é suficiente. Devemos dar preferência aos filtros do tipo canister (Fluval ou Eheim Classic ou até um Eheim Professionel) mas também podemos utilizar filtros externos como: AquaClear, Millennium ou Whisper. Dentro de qualquer filtro desses deve conter ao menos um elemento filtrante biológico, cuidando para lavá-lo somente na água que for retirada do aquário. O canister e o filtro externo, também devem fazer filtragem mecânica e química, com limpeza e trocas regulares. O uso de carvão ativado fica restrito devido ao fato de retirar da água nutrientes e CO2, mas deve-se levar em conta a periodicidade das trocas parciais. Mas podemos utilizar resinas removedoras de fosfato, para manter níveis de fosfatos baixos e evitando assim a proliferação de algas, principalmente as filamentosas e "petecas".
Quanto a circulação, deve ser feita somente pelos filtros, sem a necessidade de bombas específicas e muito menos bolhas, que fariam eliminar o CO2 mais rapidamente. Todo esse aparato pode ficar pendurado no aquário atrás, ao lado ou embaixo para facilitar a manutenção.
Obs.: não use filtro biológico de placa, devido ao fato de dificultar o crescimento das plantas e principalmente por reter dejeto orgânico excessivamente. O dry-wet (filtro feito com bio-balls) faz uma ótima filtragem, mas tem o inconveniente de fazer uma oxigenação excessiva, retirando o CO2 da água e consequentemente afetando os parâmetros necessário para o pleno desenvolvimento das plantas. E nada de utilizar compressores de ar.
Aquecimento
Deve ser feito por meio de um bom termostato com aquecedor, seguindo a seguinte regra de 1 a 1,5W/l. Deve-se manter a temperatura na faixa de 25o a 27oC.
Decoração
Pode ser feita com pedras de rio maiores e troncos previamente lavados e tratados. Para os troncos pode-se deixar em um balde com água e sal sem iodo (sal marinho na dose de 1 colher de sobremesa para 50 litros) por uma semana, depois mais uma semana no sol e de volta a um balde, somente com água doce, por mais uma semana. Isto faz eliminar boa parte do "tanino" (componente orgânico da madeira) que deixa a água com cor de chá. Mas também se isso ocorrer na montagem do aquário, basta fazer algumas trocas parciais de 20% semanais e colocar carvão ativado por um mês. O "tanino" é alimento de alguns cascudos. Para melhor visualização do aquário, esconder fios, bombas e bugigangas e até mesmo para facilitar a manutenção, podemos colocar papel contact preto, pintar de preto ou ainda utilizar um painel na parte traseira e laterais. O mais importante é a harmonia dos materiais empregados, dê preferência a peças mais escuras.
Água
Depois de equipar todo o aquário, vem a sua colocação. A mais usual é a de torneira, mas temos que tomar cuidado com alguns fatores: cloro, metais pesados, fosfatos e abrasividade. Seu uso é destinado ao consumo humano, por ser potável, mas para o aquário não é uma água ideal. Devemos pelo menos usar algum tipo de condicionante, como o AquaSafe.
Podemos eliminar o problema da qualidade da água que utilizaremos, usando um deionizador ou um filtro de osmose reversa. O primeiro é um filtro que utiliza a pressão da rede distribuidora, forçando a passagem de água por um tubo contendo carvão ativado e uma resina catiônica e aniônica, eliminando assim os sais minerais, metais pesados, nitratos, fosfatos, entre outros elementos prejudiciais, deixando a água pura, somente H2O. O outro, é um filtro que também necessita da pressão da rede, mas sua filtragem é simplesmente por pressão, passando por filtros com uma micro malha, bem fina, retendo assim a maior parte dos sais minerais e outros elementos contaminantes, essa filtragem é até mais eficiente que o deionizador. Após a filtragem ajustamos para o pH desejado com corretivo e adicionamos eletrólitos ou um tamponador (pH Stabilizer ou Target).
Plantas
Após alguns dias da água colocada (nesses primeiros dias não há necessidade de iluminação), com os filtros funcionando e os parâmetros de pH (6,8 a 7,2), KH (3 a 6) e temperatura em torno de 26°C, podemos habitar o aquário com as plantas, com o cuidado no posicionamento delas. Para isso podemos fazer antecipadamente um layout da disposição de plantas, troncos e pedras maiores (num croqui). Plantas baixas na frente e no comprimento (Riccia fluitans amarradas em pedrinhas com fio de nylon, Glossotigma elatinoides, Samolus sp., Echinodorus tennelus, Sagitaria subulata, Cryptocorynes nevillii e C. beckettii, entre outras), medianas no meio (Hygrofila sps., Cabomba sp., Bacopa sp., Ludwigia sp., Hygrofila polysperma, Echinodorus amazonicus, E. portoalegrensis, E. horizontalis, Cryptocoryne wendtii, C. ciliata, Lobelia cardinalis, Nymphoides aquatica - bananinha, Nymphea sp., Nuphar japonica, Anubias lanceolata, Rotala macrandra, Rotala walichii, Ludwigia repens, L. arcuata, Althernathera reinickii - Lilacina, entre outras), altas atrás e nas laterais (Aponogeton undulatus, A. crispus, Cryptocoryne pontederifolia, Vallisneria gigantea, Lagenandra lancifolia, entre outras). Plantas como a Cardamine lyrata - avenca d'água ou Vesicularia dubyana - musgo de java, podem simplesmente serem colocadas em cima de um tronco ou pedra, soltas ou amarradas com fio de costura. Microsorum pteropus, Anubias nana, entre outras devem ser fixadas num pedaço de madeira ou diretamente no tronco amarradas com fio de costura. Podemos também colocar algumas plantas flutuantes como Eichhornia crassipes - aguapé, Lemna sp. - lentilha d'água, Pistia stratiotes - alface d'água, Salvinia sp., Ceratopteris cornuta - samambaia d'água, pois ajudam a retirar o excesso de nutrientes, principalmente fosfatos e nitratos.
pH, KH e CO2
Se houver necessidade, devemos utilizar um Injetor de CO2. Segue abaixo um gráfico com os três parâmetros fundamentais:
Fonte: Kaspar Horst.
A partir do gráfico podemos visualizar as condições ótimas de pH, KH e CO2. Então se tivermos estáveis - fazendo testes semanais, por exemplo, um pH 6.8 e um KH em torno de 4, não haverá a necessidade de se injetar CO2, pois estaremos dentro da faixa "optimal", isto ocorre quando o consumo de CO2 necessário para o pleno desenvolvimento das plantas é fornecido naturalmente, ou seja, a circulação, filtragem e características físico-químicas da água estão de acordo com as necessidades das plantas e dos peixes. Mas se estiver um pH 7.2 e um KH 3, provavelemente estará havendo algum desequilíbrio (Descalcificação Biogênica). Inicialmente devemos fazer uma correção ajustando o pH para o nível desejado, com corretivos, água deionizada ou de RO e até mesmo usando turfa dentro do filtro externo. Após ajustado o pH, devemos corrigir o KH com tamponador (pH Stabilizer ou Target) para que fique de acordo com o nível ótimo do gráfico. Se mesmo assim não for possível uma estabilização do pH e do KH, devemos então partir para a injeção de CO2, que pode ser do tipo caseira, com difusores da Red Sea, Hagen ou da Sera (esses para aquários de até 120 litros) ou ainda um Injetor com cilindro (para aquários maiores). E daí então corrigir juntos o KH e o pH.
Obs.: sempre que formos utilizar um sistema de injeção de dióxido de carbono (CO2), devemos ter um controle dos parâmetros acima, isso para se ter uma ótima fotossíntese das plantas naturais e uma boa estabilidade do pH.
Se quiser entender melhor como funciona a relação entre pH, KH e CO2, leia uma matéria elaborada por Eloy Labatut, cliente colaborador da Aquabetta.
Peixes
Devemos levar em conta o volume do aquário e tipos de peixes adaptáveis, quanto ao tamanho e agressividade. Por exemplo, nada de kinguios ou carpas (peixes de água fria e para tanques) ou oscar (por ser muito agressivo com os demais peixes). A melhor opção são os peixes de pequeno porte, como caracídeos ou Tetras (Paracheirodon sp. - neons, Hypherossobrycon sp. - rosáceo, tetra limão, Hemigrammus sp. - rodostomos, Carnegiela sp. - borboleta, Nannostomus sp. - lápis, Moenckausia sp., entre outros), ciclídeos anão (Microgeophagus sp. - ramirezi, Apistograma sp.), Corydoras sp. (limpa fundo), Otocinclus sp. (limpa vidro). Também podemos habitar com peixes maiores como Pterophyllum sp. - bandeiras, Symphysodon sp. - discos, Hemiodopsis gracilis - cruzeiro do sul, Phenacogrammus interruptos - tetra do congo, Colisa sp., Trichogaster lery, Melanotaenia sp., Rasbora sp.
As opções ficam a critério de cada um. Como regra geral podemos ter peixes pequenos com pequenos, médios com médios e assim por diante, numa proporção de 1cm por 2 litros.
Manutenção
Isso varia de aquário para aquário, pois depende de fatores como qualidade da água utilizada, quantidade de peixes e plantas, filtragem. Em nosso aquário temos em torno de 25 espécies de plantas e umas 40 espécies de peixes e ele tem 400 litros, utilizamos um canister (filtro externo tipo copo) com esponja, perlon e removedor de fosfato. Está montado faz dois anos. Toda semana fazemos trocas parciais de 20% com água deionizada, tamponador (pH Stabilizer) para manter estáveis pH 6.8 e KH 4 e temperatura próxima ao do aquário. A sifonagem (mais aspiração, sem introdução no cascalho) fica por conta de um mangueira simples, feita quinzenalmente. Tomo cuidado para não reter muito sujeira no musgo de java, abanado-o suavemente. Poda de folhas velhas ou com algas, periodicamente. Limpeza do vidro frontal semanalmente. Limpeza do perlon quinzenal e troca mensal, o removedor de fosfato é trocado a cada dois meses e as lâmpadas (utilizamos 2 HQI's 150W de 6500K com refletor Arcadia) são trocadas a cada 1,5 anos.
Bem estas são algumas dicas de como faço com nosso aquário, espero que ajude.
Resumo
1. Localização: longe de luz direta ou indireta. A luz do sol ou uma claridade excessiva, pode ajudar a uma proliferação de algas indesejáveis.
2. Tamanho do aquário: dê preferência para aquários retangulares ou quadrados e de volumes maiores, pois facilitam a manutenção e alocação de equipamentos.
3. Suporte: estante firme ou móvel específico.
4. Substrato: cascalho de rio fino, com diâmetro de 2 a 6mm, misturado com fertilizante e laterita.
5. Iluminação: de 0,5 a 1W/l, utilizando lâmpadas específicas
6. Filtragem biológica, mecânica e química: canister ou filtro externo
7. Aquecimento: 1 a 1,5W/l
8. Decoração: troncos, pedras e papel contact preto
9. Água: de boa qualidade, livre de fosfatos e metais pesados
10. Injeção de CO2: caseira, com difusores ou cilindro
11. Peixes: 1cm/2L, porte pequeno ou médio preferencialmente
12. Manutenção: troca parcial, sifonagem e verificação do pH, KH e oC
DICAS
No caso de se utilizar somente o filtro externo, deve-se ter cuidado para não lavar o elemento filtrante biológico em outra água que não seja a do aquário. Isto para não eliminar as bactérias benéficas a ótima filtragem biológica do aquário. E talvez tenha necessidade de se utilizar uma bomba interna somente para circulação.
Não se esqueça, quando comprar um peixinho deixe o saco flutuando no aquário uns 10 minutos, daí então coloque água do aquário dentro do saco de 5 em 5 minutos até que o pH esteja semelhante. Então solte somente os peixes, sem a água e complete o aquário com água sem cloro.
Fonte bibliográfica
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